Semana passada voltei pra faculdade e uma das minha primeiras aulas foi como melhor professor que já tive até hoje: Roberto Patrus.
Já cursei Filosofia com ele no 1º período, amei
O professor carente
Em muitas faculdades, não é raro encontrar um professor carente. Trata-se de um professor de competência técnica, bem titulado, mas de fraca competência pessoal. O professor carente se abate com a falta de audiência em suas aulas. Seu sonho é dar aulas com os alunos a escutá-lo atentamente. Mas os alunos conversam entre si. Telefones celulares, a vibrar discretamente, convidam os alunos a saírem da sala por alguns minutos, para falar com o mundo. Alunos chegam atrasados, outros vão embora mais cedo. E a aula não deslancha. A todo o momento, o professor chama a atenção. Até um momento que não dá mais. Então, ele pára de falar. Espera pelo silêncio. Bate na mesa para chamar a atenção e diz que está querendo “discutir a relação” com os alunos: “Pessoal, assim não dá! Vocês estão dispersos! Será que o problema é a minha didática? O que está acontecendo?” Pela primeira vez, o silêncio invade a sala. Ninguém se atrevia a falar, quando um dos alunos sugeriu ao professor que fizesse a chamada: “Assim, quem está aqui por causa de freqüência vai embora!” O professor acatou a sugestão. “Só desta vez” – pensou.
Antes de terminar a chamada, muitos alunos já tinham ido embora. Dos cinqüenta alunos da lista, restaram 25 em sala. O professor retomou a aula, mas foi só virar-se para o quadro e mais alunos saíram da sala. Tudo parecia tranqüilo, quando um celular tocou. O professor perdeu a paciência. Havia na sala 13 alunos quando o professor lhes perguntou que tipo de profissional eles queriam ser. “Quando fiz meu Doutorado nos Estados Unidos” - disse o professor – “nós fazíamos greve para a biblioteca abrir no domingo. Aqui, vocês só querem emendar os feriados e, quando tem aula, querem responder chamada e ir embora. Que tipo de profissional vocês querem ser?” E a bronca seguiu apaixonada. Até que um aluno levantou o braço e pediu a palavra. Solidarizou-se com o professor, disse que era difícil mesmo, que os próprios alunos se sentiam prejudicados com a falta de compromisso de alguns alunos, mas... (Parece educado, ao discordar de um professor, concordar primeiro e acrescentar uma conjunção adversativa em seguida!) “...Mas você deveria dizer tudo isso, Professor, para quem saiu da sala, não para quem está aqui”!
A fala deste aluno revela uma verdade: o professor está reclamando com os alunos errados! Os poucos alunos que ficaram são aqueles de quem o professor não tem tantos motivos para reclamar. Teve necessidade de desabafar o seu desgosto. Apesar de bem titulado para exercer a profissão docente, ele demonstrou não ter competência pessoal, para administrar a sua frustração. Faltou-lhe consciência de que a sua frustração e impaciência são problemas seus, que seus alunos não são obrigados a corresponder a suas expectativas. Não basta a um professor ter domínio técnico do conteúdo da disciplina. É preciso ter maturidade emocional. Sem essa competência, compromete-se um dos pilares da didática: a relação professor-aluno.
(*) Roberto Patrus-Pena é Colunista de Plurale. Filósofo, psicólogo, professor, psicoterapeuta, mestre em Administração, Doutor em Filosofia. Tem 42 anos, é professor da PUC Minas há 20 anos e espera, daqui a dois anos, ter dedicado a metade da sua vida a esta instituição. Email: robertopatrus@pucminas.br
Aposto como você já teve um professor assim, acertei?! rsrs
3 Comente aqui!:
Adorei o texto, sempre tive professores assim!
Beeijos
Oi Thiara
Desde a primeira vez que ouvi essa coisa de "professor carente" fiquei mais observadora e, não tem jeito: a maioria se encaixa nesse perfil, não é?! rsrs
bjuu
Oi, Jéssica,
Surpresa ver meu texto aqui! Obrigado!
Grande abraço!
Roberto Patrus
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